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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Por onde anda nosso Folclore? Saudades da vovó e suas lendas folclóricas

por Renata Dias
Perguntei hoje a uma adolescente o que ela entendia por folclore, e muito pouco soube responder, apenas lembrou o nome de algumas lendas, mas pouco sabia sobre elas. Contudo, cada vez mais, é possível perceber que o folclore brasileiro tem perdido sua essência, ou até mesmo a sua inocência. Digo assim, pelo fato de que antes, quando menina, sentada na beira do fogão à lenha, ficava horas a finco ouvindo minha avó contanto aquelas diversas histórias de lobisomem, mula sem cabeça, Saci-Pererê, assombrações, enfim.
Acredito que por mais que eu faça cursos sobre contação de histórias, ninguém irá contar tão bem quanto a minha avó e as pessoas de sua época, que viviam na fazenda, ou até mesmo na cidade.

Quando a noite chegava, o barulho dos grilos, a coruja cantando, a brisa do açude no fundo do quintal, em um cenário de mistério e imaginação. Sim, na casa de minha avó tinha um belo açude, e o quintal parecia uma prainha, era o melhor lugar para viver que eu conhecia.

Gostava muito quando chegavam as férias para ir desfrutar das belezas do campo. Lembro-me bem do jardim de Dálias, dos cachorros nadadores e caçadores, das galinhas, do meu avô tirando leite, dos primos correndo das vacas e bois, do barracão, do cavalo Britano, de meu avô na carrocinha. Às vezes até ia com ele, morria de medo de andar de carroça, mas como aventureira desde pequena, segurava firme e ia.

Minha avó passava o dia na cozinha fazendo pão, bolo, pão de queijo, biscoito de polvilho, bolachas de nata, enfim, coisas ótimas de bem servir. Até os 22 anos de idade tive essa doce oportunidade de curtir o campo e ouvir lendas folclóricas nesse ambiente que hoje quase só vemos em fotos, talvez daí o meu amor pela natureza e pela literatura.

A noite juntava os primos e ia assar milho nas brasas do fogão à lenha, que coisa boa. Nesse momento começávamos a perguntar para a minha avó sobre as histórias, então, sentávamos e tão breve ela começava a nos contar. A convicção com que ela contava era tanta, que até hoje sou capaz de acreditar nelas.

Ao fazer alguns cursos de interpretação, percebo o quanto minha avó era ótima na arte de contar histórias, isso sem nunca ter ido ao colégio.

As histórias folclóricas tinham uma importância maior naquela época, as pessoas amavam contá-las e ouvi-las, e por mais simples que pudessem parecer, até hoje esconde seus mistérios. Atualmente nossas histórias folclóricas perderam espaço para grandes obras literárias, de fato também importantes para o leitor, porém, em minha opinião as lendas não deveriam ser substituídas. As crianças de hoje em dia poderiam ter mais contato com as pessoas mais experientes, como senhores e senhoras que têm muita historia para contar.

A parte mais bela do folclore brasileiro, está na possibilidade de qualquer pessoa independente de sua condição financeira poder ter acesso as histórias. Na casa de meus avôs não tinha uma biblioteca, mas na mente deles havia muitas histórias, e assim crescemos, ouvindo o que na verdade já fazia parte da literatura sem ao menos ter noção disso. As histórias eram tão convictas, que não pareciam existir em outro lugar, eram únicas, fantásticas!

Na escola quando ouvia as histórias de mula sem cabeça e de lobisomem não pareciam tão legais quanto as que ouvia na fazenda, pois o brilho e encanto que aquele ambiente proporcionava era único. Contudo, se bem trabalhado em sala de aula essas histórias ainda podem resgatar sua magia e encantamento.

"Curta cada momento de sua vida, aproveite o nascer do sol, o brilho das estrelas, o barulho das ondas, o sorriso amigo, pois nunca se sabe o momento da despedida" Renata Dias